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Reactor 4

esquerda snowflake, lobo marxista easylado@sapo.pt

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Alguns esclarecimentos ao Sr. Deputado Pedro Mota Soares

16.02.08 | Bruno C.

Depois de ler um artigo do Sr. Deputado Pedro Mota Soares (Meia Hora dia 15/02/08) perguntei-me como seria possível sair tanta barbaridade da boca de uma pessoa, mesmo tendo em conta uma possível educação moral e religiosa aquando da sua socialização primária. Afinal de contas é um deputado, deveria ter mais prática de reflexão.

Este Sr. Apresenta uma quantidade de questões que o perturbam e para as quais estranhamente não encontra resposta. Pois eu, ciente das minhas limitações vou tentar responder a estas questões e assim contribuir para um sono mais descansado deste deputado.

O Dr. Pedro Mota Soares (espero não me ter enganado no titulo), pergunta como é que apenas 6000 mulheres praticaram a IVG contra as 20 a 40 mil previstas. Esta é fácil. Portugal ainda sofre os efeitos de uma longa ditadura que aprisionou as mentes dos portugueses e esses efeitos são ainda visíveis através de uma alta taxa de analfabetismo, iletrassia e tacanhez. Dessa tacanhez e preguiça de pensar, herdadas do tempo da antiga senhora, ainda apalpamos os moralismos e concepções religiosas que castram as mulheres enquanto tais. A acrescentar vivemos num pais e de um modo geral, num mundo em que as mulheres têm ainda pouco voto a matéria, trabalham mais, ganham menos, têm mais encargos sociais e familiares que os homens, enfim ainda são vistas (cada vez menos) como inferiores a quem lhes deu a costela e serviu de molde para elas existirem. Disto somado resulta vergonha. As mulheres ainda têm vergonha por estarem a praticar algo que até há um ano era considerado pela lei um crime e algo que ainda hoje é visto como algo moralmente desprezível. A vergonha é dos sentimentos mais subestimados. Mesmo hoje com a lei do lado da escolha das mulheres, estas têm vergonha ainda hoje há abortos clandestinos. Um ano é uma migalha no tempo necessário para se mudarem mentalidades.

Depois este Sr. Pergunta quantos estabelecimentos terão os serviços de apoio psicológico e assistência social previstos. Tenho que concordar que o governo está a falhar redondamente nesta matéria o que ainda assim não é suficiente para por em causa a descriminalização do aborto.

Do que mais gostei foi quando o Sr. Deputado questiona por quê que os médicos objectores de consciência não podem participar nas consultas de aconselhamento. Ou este senhor é mesmo um anjinho ou então é um fingido populista que nos toma por minhocas ou corpos amorfos que se arrastam pelo mundo sem o mínimo de pensamento na cabecinha. Se um médico não se consegue distanciar dos seus moralismos ao ponto de se considerar incapaz de praticar um acto médico como a IVG, também é igualmente incapaz quando se trata de aconselhar uma mulher que se encontra num momento de fragilidade emocional e vulnerabilidade. Aliás a palavra não é aconselhar, mas informar. O conselho é sempre algo direccionado e opinativo. Já agora por que não pomos padres nas consultas de apoio? Aposto que a taxa de abortos ia diminuir em flecha.

A pergunta seguinte é realmente a mais hilariante, na qual o deputado fala das mulheres que realizaram neste último ano mais do que aborto. Não tenho dados para negar nem confirmar esta afirmação do Sr. Deputado, mas o certo é que se isso aconteceu alguma vez foi um acontecimento isolado. Queira o senhor deputado saber que abrir as perninhas para uma data de médicos e enfermeiros que andam a escarafunchar e a raspar o útero não é dos métodos contraceptivos preferidos das mulheres. Ao contrário do que possa pensar as mulheres não gostam de fazer abortos (numa outra oportunidade explico-lhe as motivações por de trás do fenómeno).

Quanto ao facto do Dr. Pedro achar o aborto um fenómeno dramático, tenho de concordar. Não sou a favor do aborto, mas da possibilidade das mulheres escolherem fazer um aborto sem serem presas criminalizadas isso. E não é por algumas mulheres sofrerem por não poderem ter filhos que aquelas que não consideram a altura ideal para terem um, não poderem abortar. Esta é uma ironia da vida e como tantas outras temos que viver com ela. Será que nunca deixou comida no prato? Pois, com tanta gente a morrer à fome, como é capaz? O Sr. Deputado sabe disso tanto quanto qualquer um de nós e é populista e infantil vis dizer o que disse.

Estas coisas acontecem e só podemos fazer o nosso melhor para colmatarmos estas diferenças. Acredito num Estado de Previdência apoiado na vontade, boa fé e solidariedade de todos, que toma conta de nós o melhor que pode.

Apesar da sua educação moral e económica de direita este senhor junto com muitas outras pessoas deveriam ser mais honestas, moral e intelectualmente honestas. Toda a gente tem direito a uma opinião, mas isto não é uma opinião, é um logro. Não espero muito de um deputado de extrema direita, mas no mínimo fica-lhe mal.

 

Post escrito por Cldsimões