Já sabemos que o senhor deputado Pedro Soares é conhecido pelos seus pontos de vista enviesados e muito pouco ou nada fundamentados. O seu artigo no meia hora de hoje é para os mais atentos uma piada de todo o tamanho, mas para os mais incautos um perigo em potência; perigo de evangelização para a sua seita quase milenarista dos “Visão Curta”. O seu artigo é um resumo de como os radicais de direita veem o mundo. Eles veem o mundo tal como ele é, sem o questionarem nem o tentarem compreender. Decerto que ainda defendem que é o sol que anda à volta da terra, pois é isso que eles veem.
Ele questiona como é que vivemos num mundo em que uma adolescente de 16 anos pode fazer um aborto, mas não pode fazer um piercing. Não sei o que hei-de criticar primeiro, se o facto dele insinuar que as adolescentes são umas abortadeiras, se o facto de condenar uma adolescente por não querer criar um filho em tão tenra idade. Ele fala como se a adolescente escolhesse fazer um aborto como escolhe pôr um brinco. É decerto mais fácil viver com um brinco no umbigo do que criar um filho.
De seguida critica a lei emergente de divorcio a pedido de um conjugue quando um patrão tem de esperar 5 anos apara despedir um empregado. Esta comparação não é a visão de um radical de direita, mas é intelectualmente desonesta. Coitadinhos dos patrões que não conseguem despedir os empregados. Ele pede uma lei laboral que proteja ainda mais os patrões? Que torne o emprego ainda mais instável? Já não chegam as trafulhices dos recibos verdes, dos estágios não remunerados, dos contractos renovados todos os meses para que os funcionários fiquem a trabalhar anos e anos sem passarem a efectivos. Realmente, os trabalhadores são os canalhas que só enganam os patrões. Quanto ao divorcio a pedido de um conjugue, eu não vejo nada mais deprimente do que estar casado com alguém que não quer estar casado connosco. Tirando os casos de possíveis fraudes ao nível dos bens, ninguém deveria estar casado por obrigação. Isso é mais do que do século passado; é do milénio passado e só reflecte uma mentalidade retrógrada, que vive das aparências.
Como debater racionalmente todos os cenários apresentados no seu artigo ocuparia muitas páginas vou só comentar mais uma comparação fantástica que é a do iva de 5% do preservativos contra os 21% das cadeiras de bebés para os automóveis. Já sabemos que os radicais de direita, especialmente os religiosos radicais que pertencem ou querem pertencer ao clube fixe da opus dei, vê o sexo (espero que eles não leiam este palavrão que acabei de escrever) como um acto unicamente para procriar claramente dentro do casamento (este por sua vez para a vida). Sendo assim, 99% dos actos sexuais não deveriam existir assim como a existência dos preservativos seria completamente inútil, já que dois virgens não teriam doenças venéreas para passar um ao outro. Faz todo o sentido para quem segue a primeira premissa de que o sexo é só para procriar. Como estas opiniões só são populares junto dos militantes mais fieis do CDS/PP , é fundamental a existência e difusão dos preservativos, não só como método anticontraceptivo, mas principalmente como método de não transmissão de dst's.
Quando leio os textos dos radicais de direita e em especial deste senhor, não sei se rio ou se choro. Como é possível alguém defender piamente estes pontos de vista, será má fé, má formação moral ou apenas burrice? Não é preciso ter medo de um Deus colérico e de um inferno no fim da vida para não fazermos mal ao próximo. Praticar o bem pelo medo de um castigo divino, isso sim é condenável.