Reivindicar sem descredibilizar (Parte 1)
Assistimos nos últimos meses a um tumulto de manifestações que visam a defesa e aquisição de direitos. Algo natural em ano eleitoral. Instituições fazem pressão no governo em troca de paz social. O direito à greve foi mais que um direito conquistado, um avanço da sociedade democrática, no entanto o seu uso excessivo pode desvirtuar o seu poder e descredibilizar quem a usa. Acho que o que assistimos nos últimos meses, mais do que pressionar o governo, está a descredibilizar o Estado enquanto instituição. Devemos sempre querer mais e reivindicar mais, mas quando criticamos demais e não valorizamos o facto de ainda termos a quem reivindicar, estamos a cair num enorme erro. Demasiada critica descredibiliza essa instituição que nos e tão querida que é o Estado e dá espaço para que o mercado avance e tome conta de áreas que deveriam ser de domínio público.
Defendo um Estado Previdente, que toma conta dos seus cidadãos, que os defende da selva do mercado que os ajuda quando estes estão em dificuldades. Queixamo-nos das condições de saúde, das reformas e salários baixos, mas o facto é que temos um serviço Nacional de Saúde gratuito (com taxas moderadoras), temos reformas e um salário baixo do qual não é permitido pagar. Não estou a dizer para nivelarmos por baixo e para nos contentarmos com o que temos. Temos sempre que lutar por mais e melhores direitos. O que digo é que ainda temos um Estado de Previdência. É esta crise do mercado que estamos a viver que nos faz lembrar que não estamos completamente à mercê do mesmo e que temos uma instituição que nos protege (melhor ou pior, mas está lá). Se não nos lembrarmos disso agora, não o vamos quando o mercado estiver a “funcionar bem”.
Artigo de Cláudia Simões