O nível de primarismo argumentativo a que algumas pessoas conseguem chegar é preocupante, pois algumas expressão as suas opiniões em jornais de relevo.
João César das Neves é uma dessas pessoas. Na sua crónica sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo consegue atingir um nível de calunia, mentiras e obscurantismo de relevo. Apesar do inicio ser algo calmo, apenas atacando a democracia num dos seus aspectos mais importantes, como é a Assembleia da Republica. Fazendo insinuações de falta de espírito democrático na aprovação do diploma, como que apenas o referendo fosse a única expressão da vontade dos cidadãos ou de democracia. Mas o mais caricato desta crónica vem nos parágrafos seguintes. Fala de uma campanha orquestrada para tornar a homossexualidade como uma coisa normal! Referindo que isto não acontece em mais país nenhum. Deve estar esquecido da Holanda, Bélgica, Espanha, Canadá, África do Sul, Noruega ou Suécia que já legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mais à frente deparamo-nos com uma frase que não tem resposta possível de tão nojenta que é. Pois no mundo pré-apocalíptico em que César das Neves vive todo é promíscuo e depravado com a excepção da família tradicional.
"... a distinção decisiva, ..., é entre a família perene e fecunda que se propaga nas gerações, baseada num compromisso para a vida, no amor como na dor, e todas as outras alternativas, da promiscuidade às uniões de facto, passando pela depravação e precariedade conjugal que o Estado tem vindo a promover em várias leis."
Antes de finalizar nenhum manifesto anti-gay estaria completo sem a insinuação da quebra da natalidade. Insinuação sim, porque dizer que a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo reduz a natalidade só pode ser para ri. Assim deixa-se a insinuação, misturam-se alhos com bugalhos e espera-se que ninguém repare.
Monta-se uma teia de argumentos falaciosos onde tentam convencer o povo que com a legalização do casamento gay vamos deixar de ter filhos em Portugal. Como que dizendo que agora que pessoas do mesmo sexo podem casar, os homossexuais já não vão ser "obrigados" a casarem com mulheres (ou homens) e terem filhos.
Mas se calhar César das Neves tem razão quando escreve artigos destes, é que se assim não fosse talvez ninguém o contratasse.