Como a maioria das pessoas deve sabe, o liberalismo de mercado (teoria defendida acerrimamente desde o inicio do séc XIX) defende que o mercado, movido apenas pela iniciativa privada, consegue por si próprio garantir a produção e distribuição de bens pela população criando um equilíbrio gerador de bem-estar social. O nome mais famoso ligado a esta doutrina, Adam Smith contribui com a sua teoria da mão invisível, cada pessoa movida por um egoísmo económico tenta vender os seus bens ao preço mais alto e tenta comprar ao preço mais barato. Smith ilustrou bem seu pensamento ao afirmar "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio interesse. Ora a concorrência faz com que para além de se contribuírem para o desenvolvimento tecnológico ao tentar encontrar a forma mais barata de produzir o seu produto, o preço deste seja de acordo com a sua procura. O preço de um produto depende assim da procura do mesmo. É o chamado equilíbrio da oferta e da procura que é gerida pela tal “mão invisível” do mercado. O Estado fica assim arredado de qualquer interferência na iniciativa privada ou na gestão do mercado.
No entanto, estes ideais liberais esbatem-se nos momentos de crise económica. O que se verificou é que este funcionamento não era tão linear e que o mercado também teria os seus disfuncionamentos. Nada de grave. Os liberais apelidam de desvios que o próprio mercado tenderia a resolver. Para além de incapacidade de integrar socialmente aqueles que não estavam integrados no mercado de trabalho o liberalismo apresenta disfuncionamentos na sua teoria mais pura (por exemplo casos de cartelização que traem os fundamentos basilares de concorrência).
O meu objectivo não é o de discorrer acerca das des-virtudes já comprovadas da doutrina liberal, mas discorrer acerca das novas des-virtudes e do impacto destas na sociedade moderna nomeadamente na sociedade portuguesa. Assistimos recentemente à notícia da descida de ranking da confiança de Portugal nas agências de rating. Ora primeiro para quem não sabe agências de rating são empresas americanas que estudam empresas mundiais e Estados, e lhes dão um valor de confiança de investimento. No fundo são elas que dizem em quem investir ou não. Empresas essas que já mostraram grandes falhanços ao catalogarem empresas em alta e elas falirem no dia seguinte, mas nem por isso viram as suas credibilidades afectadas. São empresas privadas (daí a sua independência ser questionável) americanas que para além de muito nacionalistas ganham com a descida do euro. São elas que fazem com que uma empresa num dia valha muito e no dia seguinte entre em falência, sem que haja qualquer alteração de facto na empresa. A lei da oferta e da procura de facto funciona pois se essas agências dizem para se investir em determinada empresa os investidores vão todos comprar acções dessa empresa e as acções sobem, sem que o produto desta seja de facto mais apetecível no mercado. O mercado bolsista circula acções e não bens e serviços em concreto. Não há produção de riqueza ou evolução tecnologia. A “mão invisível” que gere a oferta e a procura não de deve ao mercado, mas a agências de rating. Não se trata de um a mão invisível, mas uma mão bastante visível. Smith deve estar agora às voltas na campa.
Parte da solução passa, como foi já referido por alguns políticos, pela criação de uma agência de rating europeia que seja imparcial e justa. Para além desta acho que a UE poderia passar a variar a origem dos seus investimentos, isto é, devia depender menos do mercado de capitais americanos no que toca a pedir dinheiro emprestado. Afinal de contas há outros mercados fortes com moedas bem cotadas. Para finalizar, queria deixar a vontade de que os estados e as empresas investidoras e as empresas alvo de investimento, dessem menos importância a tais agências americanas. Sei que para quem está do lado de lá dinheiro é mais difícil, mas uma postura mais céptica de todos começaria responsabilizar mais as empresas de rating.